quarta-feira, 31 de março de 2010

Produto do Ócio

Uma parte...
Amigos, bagunças,risadas... Cerveja e tequila!
Algumas coisas e pessoas que amo, pra me lembrar que sou feliz. 
"We are happy heeeeeeeeeeeeeeeeere, ooooooooo!"

sexta-feira, 26 de março de 2010

Desilusões

Trecho de uma conversa com um novo amigo:

Depois de tanto quebrar a cara a gente sempre fica com o pé atrás.
Acho que assim deixamos de viver o amor plenamente. Mas eu deixei de acreditar em amor de contos de fadas.
Agora, só contos de fodas.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Miguel (Sexta Parte)

Enquanto Rubia matava as saudades do amigo, Miguel voltava pra casa.
Andou um pouco pelo centro da cidade, procurando alguns lugares onde costumava ir quando adolescente. Tudo havia mudado, para pior. Perguntou-se o que fez esse tempo todo que não havia percebido tantas transformações: a biblioteca já não era mais embaixo do Fórum. Agora estava situada em uma sala no antigo shopping. A área verde, atrás da biblioteca, onde se reunia com os poucos amigos depois de fazer algum trabalho escolar também se extinguira. Sentiu saudade daquele tempo: uma turma de seis meninos e duas meninas. Sempre a turminha isolada da sala, olhada de soslaio pelos colegas e encarada com raiva pelos professores. Pareciam distantes, indiferentes. Conversavam o tempo todo entre si. No intervalo, se juntavam com uns mais velhos. Um deles era irmão de uma de suas amigas. Foi com eles que começou a ir a festas, a sair, a beber e a fumar. Era a turma marginalizada, da qual todos tinham medo. No fundo eram agradáveis e só não se misturavam porque achavam a maioria muito enfadonha. Gostavam de músicas e livros e conversas diferentes do que a maioria estava acostumada. Apesar de não serem bem vistos pelos professores, sempre tinham boas notas e faziam ótimos trabalhos.
A biblioteca não tinha copiadora. Tinha, mas não funcionava nunca. A turma se reunia para copiar os trabalhos. Passavam a manhã toda e o comecinho da tarde fazendo isso. Aninha se encarregava depois de editar e datilografar o material colhido. Elaine fazia as cópias e dividia as partes para mais tarde o grupo montar a apresentação. As duas se tornaram professoras. Ninguém imaginaria isso. Duas doidas, que viviam no meio dos meninos, falavam palavrão, jogam truco e faziam parte do time de futebol de salão da escola. Elaine era de uma beleza comum. Bem atirada, vivia trocando de namorado. Era atacante do time e fazia muitos gols. Jogava como homem, se comportava como homem e isso a tornava mais acessível. Ficou com muitos meninos na escola, ao contrário de Aninha.
Aninha jogava no gol, queria ser menino pra poder estudar no SENAI e as meninas tinham medo dela por causa da cara de brava. Só casca. Era doce e quem não a conhecia não tinha ideia disso. Não era masculina, ao contrário do que se pode pensar. Tinha os cabelos negros, compridos e usava sempre preto, mas eram roupas justas e curtas e tinha uma bunda maravilhosa. Era desejada, mas ninguém tinha coragem de chegar perto, por causa do irmão, um dos mais nervosos da turma. Miguel tinha uma paixão secreta por ela, mas tinha tanto medo quanto os outros. Ela parecia não perceber. Conversava com os meninos como se tivesse conversando com qualquer outra amiga. Falava o que pensava, discutia com convicção e não se importava com o que pensavam sobre ela. Essa indiferença a deixava ainda mais desejável, pelo menos para Miguel, que, ao se pensar nela, pensou também que talvez fosse a única de quem ele tivesse gostado. Até então. Lembrou-se de Rubia novamente. Por uns instantes tinha se esquecido do que acontecera naquela manhã. E lembrou-se, por fim, onde pretendia ir quando saiu. Mais uma vez, seus planos não se concretizaram. Mais uma vez deixara de fazer o que imaginara. Sempre era assim: se decidia, mas não cumpria. Nenhum plano, nenhuma meta. Nada era concluído. Nem um simples passeio em um parque qualquer.
Ao menos não tinha colocado um cigarro sequer na boca naquele dia. Sentia-se nervoso, inquieto, mas não sabia o porquê. Só percebeu quando chegou a casa e viu seu cinzeiro ainda com algumas pontas de cigarro da noite anterior.
Sentiu uma vontade imensa de acender um deles, pra conseguir pensar com calma no que acontecera. Pela primeira vez em muito tempo Miguel se sentira animado. Tinha a imagem de Rubia no pensamento, sentada no trem com seu livro. Queria retratá-la e prendê-la naquela tela como forma de tê-la eternamente. Vermelho, verde, laranja, branco. Finalmente as cores teriam vida. Miguel tinha alma, por fim.
Em vez de acender o cigarro, pegou uma tela, tintas e pincéis e se pôs a trabalhar. Ia começar pelo vermelho, obviamente, mas preferiu deixá-lo para os retoques finais. Era especial e seria tratado com cuidado. Fez o esboço de um corpo feminino. A imagem de Rubia sentada à sua frente não lhe saia da cabeça, porém, não era isso que saia do seu pincel. Queria imortalizá-la daquela maneira, com a luz e os pés cruzados e a saia... Mas só conseguia pensar nela longe dali. Só pensava nela sem mais nada em volta de seu corpo. Só ela, à noite, azul. Rubia azulada, sob a luz da lua. Ela, a lua e mais nada.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pão Com Manteiga

Fábrica da Arte
Composição: Paulinho Belúcio

A gente luta, se desgasta
Vive mal, até fome passa
Deixa uísque, bebe cachaça
Arruma grana só na raça

Para comprar um violão
Que tenha um som doce de mel
E numa folha de papel
As melodias para ti

Então preparo a serenata
Pra ensaiar um dia se passa
Vou cantar não vejo graça
Mais um gole na cachaça

Um dia eu canto, já está lindo
E estou à janela indo
No auge da felicidade
Canto pra toda cidade

E o melhor de tudo isso
Sei que tu estás me ouvindo
E eu aqui já delirando
A janela vai se abrindo

Sim sempre linda, doce, meiga
Tu me amparas a noite inteira
E assim, doce, linda e meiga
Me serves pão com manteiga

terça-feira, 23 de março de 2010

Pressão.

Um único amor? Não pra mim.
Finjo crer ser culpa do Sol.
Lençois queimados, cinzeiro transbordando.
Tento entender. Não consigo.
Prefiro crer que seja só isso.
Correr quilômetros todo dia
Pra sentir o coração.
Tontura. Pressão.
Taquicardia.
IAM ao meu encontro?
Procuro, anseio.
Quero-te como a todos meus grandes amores:
Dolorido. Rápido.
Intenso.

segunda-feira, 22 de março de 2010

"In"Sonia.

Quero estabilidade, calmaria.
Águas rasas e imóveis.
Quero distância da profundidade
do perigo, da incerteza.
Quero poder sentir meus pés tocando o fundo,
enquanto minha cabeça ainda pode sentir o ar.
Quero pulmões  a salvo
E minha cabeça  fresca.
Quero me livrar dos impulsos,
deixar de fazer besteira,
passar a encarar a vida de forma adulta.
Quero me preocupar com o futuro,
quero fazer planos
quero ter metas.
Ser responsável, linear, ter um norte.
Quero ser séria.
Deixar de sonhar e ter desejos.
Penso em suicídio. Sou covarde.
Opto pela negligência.
Ver meu coração morrendo e não fazer nada
Ver meu sonhos se desfazendo enquanto me mantenho acordada.
Omissão de (auto) socorro.
Não quero mais lutar. Não tenho mais forças.
Só quero paz. Quero minha alma de volta.

domingo, 21 de março de 2010

Típica tarde de Domingo (II)

Domingo costumava ser um dia de acordar cedo, lavar o carro do meu pai, fazer as unhas, ligar para um amigo escolhido de forma aleatórea e falar sobre assuntos também aleatórios: a noite anterior, trabalho, novidades... Assuntos em importância.
Bem, domingo era dia. O caso, agora, é que as noites anteriores aos domingos têm sido tão agitadas que não me deixam outra alternativa senão ficar de molho.
Tudo está exatamente do jeito que estava ontem quando saí de casa, exceto algumas peças de roupa que deixei em cima da cama e, quando cheguei, joguei em um canto qualquer pelo chão. 
Meu quarto está uma bagunça. Minha casa, meu carro, minhas unhas estão uma bagunça. Minha vida está uma bagunça... Não sei onde deixei minha bolsa. Voltei com ela pra casa, tenho certeza.
Não tenho a mínima intenção de me mexer. De levantar dessa cama e fazer algo. As roupas continuam me olhando e implorando por um lugar apropriado a elas. Essa visão que tenho, aqui do alto da minha cama, me incomoda. Mas não a ponto de me fazer ter vontade suficiente pra dar um jeito nela. É essa dor de cabeça que me faz parecer estar voando e, ao mesmo tempo, me faz sentir ser tão inútil.
Não tenho coragem de me levantar e colocar um filme pra assistir. Nem de pegar o livro que comecei na sexta feira e que me fez companhia até as cinco da manhã, porque não conseguia parar de lê-lo. Aliás, só parei porque tive um ataque de riso em uma das passagens que me lembrou algo que aconteceu na escola com um menino da minha sata: "TAMP, TAMP, TAMP". Me permito um "KKKKK" a esta altura.
A vida imita a arte, a arte imita a vida, ou as duas sincronizam-se?
Telefone sem som, cinco chamadas não atendidas.
O celular, au acho, coloquei pra carregar quando cheguei hoje de manhã e ele está caído embaixo da cama. Vai ficar ali por uns dias. Não quero falar com ninguém. Sem interação social hoje, por favor!
"NO SOUP FOR YOU!"
Um cara que conheci me deu umas broncas porque não atendia o celular nem respondia às mensagens. Perguntou se fazia isso com todos e eu respondi (finalmente eu respondi) que não. Que só fazia com quem era idiota. O cara sumiu. Nunca mais me mandou mensagem. Porquê será??? Sumiu até ontem. Tinha uma mensgem dele quando coloquei o celular pra carregar. Então, exlico porque não respondo:
Esqueço sempre o bendito do celular no carro (isso quando me lembro de sair com ele). Ele fica três, quatro dias sem bateria. Às vezes minha irmã o coloca para carregar, porque tenta me ligar e nunca consegue. Ele ficou por quatro meses com uma menina que nunca vi na vida. Cansada de me esperar buscá-lo, o mandou por sedex. Só o tenho ainda porque não tenho um despertador. 
Não tenho um despertador porque o tic-tac me irrita. Não tenho um rádio relógio porque a luz me irrita. Costumava deixar o som despertar quando estava sem o celular, mas a luz dele me incomodava. Não consigo dormir com nenhuma luz. Coloquei fita isolante na TV, no receptor e no interruptor. Este fica verde fluorescente no escuro, como aqueles E.T.s quem vinham no Kinder Ovo. 
Todo santo dia meu irmão entra nervoso no meu quarto, brigando comigo porque desliguei o modem e o roteador. 
Quem, em sã consciência, consegue se deixar cair na inconsciência e entrar em REM com nove luzezinhas piscando do lado da sua cama bem no seu rosto? 
Terminou o download de um filme agora. Acho que vou tentar assistí-lo.. O jogo do Corinthians está parecendo jogo de várzea... Ou vou dormir mais um pouco. Ainda não me decidi.
Sei que somente amanhã vou pensar na noite de ontem. E só amanhã vou voltar a organizar minha vida e minhas coisas. Entendo porque todos deixam tudo pra segunda-feira. Pelo menos entendo os que vivem como eu. 
Hoje é dia de isolamento. Não é tédio, não. É que não sou de ferro e não tenho mais idade, nem pique,  pra fazer o que fazia dez anos atrás: virar a noite na gandaia.
Maldita ressaca! Ou artrite, sei lá...

sexta-feira, 19 de março de 2010

Miguel (Quinta Parte)

No bar combinado com o amigo Rubia escolheu uma mesa escondida. Era cedo ainda, o bar estava vazio, mas começaria a encher logo. Aquela mesa ficava atrás de uma coluna grande e só era vista por quem estava no balcão. Queria tomar um café, mas sua semana tinha sido tão cansativa que se resolveu por uma cerveja. Deu dois goles e ligou para o amigo. Não conseguiu falar com ele. Esperou mais um pouco, tentou novamente e nada. Levantou-se para ir fumar na calçada e lá estava ele: sentado, concentrado, lendo seu livro. O cabelo lhe caía sobre a testa e aquela seriedade a atormentava tanto que se sentou novamente e continuou sua cerveja, sem coragem de chegar perto. Tentou novamente ligar para o amigo, sem sucesso e sem saber o que fazer.
Continuou ali, escondida como um bicho acuado, observando de longe seu predador. Ou o contrário: ficou à espreita esperando o momento certo de agir. Ele estava ali por ela, tinha certeza. Ela disse aonde iria e ele ouviu.
Pensou muito. Durante duas cervejas pensou mais do que tivera pensado a vida toda. Como poderia se aproximar? Como saber se aquela conversa toda de cores era realmente sobre ela? Seu telefone tocou. Era o amigo dizendo que estava em outro lugar, pedindo para que ela o encontrasse ali.
Saiu, então, passou pelas mesas na calçada e parou em Miguel. Estava com as mãos na cabeça, parecendo preocupado. Mas a preocupação era tanta que ele nem deu importância pra sua presença.
Perguntar se ele estava bem já era interação social em demasia para ela. Mais uma vez, sem saber o que fazer, comentou sobre o livro e partiu. E se martirizou durante todo o caminho até encontrar o amigo e contar para ele toda a história.
- Tá louca, menina? Você, falando em amor a primeira vista? – Comentou o amigo ao ouvir tudo.
- Eu não falei em amor em momento algum – respondeu Rubia.
- Ah! Mas pra você resolver se desfazer de um livro, que mais pode ser? Qual era o livro?
- O Visconde Partido ao Meio.
- Eu não acredito que você ousou fazer isso!
- É. Nem pensei. Depois me arrependi. Mas me arrependi por não ter anotado meu telefone no livro.
- Só faltava. Se apaixonar no trem. Bom, vindo de você, pensando bem, é possível. Façamos o seguinte: voltemos ao bar onde vocês estavam. Ele pode estar lá ainda.
- Duvido muito. Melhor irmos. Quer fazer o que?
- Adivinha? Com esse calor, tomar uma cervejinha! E almoçar, minha lindinha, porque estou morrendo já.
- Como queira, bonitão. Onde?
- No bar onde vocês estavam. 
- Aquilo é bar, não é restaurante;
- Lá tem coxinha, não tem? Coxinha, pra mim, está ótimo!
- Coxinhas, então. Mas só se prometer que, à noite, vai comer meu macarrão.
- Confesso que só vim pra cá por isso. Louco de vontade de comer aquele macarrão empapado que você faz.
Rubia riu do amigo debochado e os dois seguiram para o bar. Ela sabia que não encontraria Miguel. Mesmo assim, pedia baixinho aos céus que estivesse enganada.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Arrrgh!

Tem coisa que me enoja!
Eu sou sincera. Não da boca pra fora. Sou por convicção mesmo.
Dia desses um amigo meu me disse que sou muito desbocada, e que isso assusta aos homens.
Acho que ele nunca ouviu tanto desaforo na vida!
Falei muito, dei uma puta lição de moral nele e disse que, se se incomodava, podia se afastar, sem problemas. Ele ainda é meu amigo...
E é assim. Eu não falo o que penso. Eu penso o que falo!
Costumo dizer que minha língua é mais rápida que meu cérebro. Primeiro eu falo, depois eu penso. 
Se perceber que errei, me desculpo. Nem sempre adianta, mas sou assim. Não pretendo mudar, não pretendo deixar de assustar as pessoas. Mesmo porque quem eu amo continua comigo, apesar dessa língua de trapo que eu tenho.
Às vezes eu tento ser mais poética, às vezes eu tento levar a vida sob um olhar mais filosófico. Mas não dá pra ser cult o tempo todo.
Eu falo palavrão. Raramente, de uns tempos pra cá, mas falo.
Duvido que alguém, quando bate com o dedão do pé no pé na cama, diga: "Ah! Mas que falta de sorte a minha". O caralho! 
A pessoa diz logo: Puta que pariu! Que que essa porra de cama tá fazendo no meio do quarto?
Claro que me comporto em meio a reuniões de família, com meus alunos e seus pais, na escola e tudo mais.
Mas quando estou entre amigos, ou pessoas que não fazem parte de minha vida profissional, e não gosto de alguma situação ou de algum comentário, mando tomar no cu mesmo! Depois argumento, mas que eu xingo, eu xingo.
E me irritam as pessoas que se mostram intelectuais o tempo todo. Pessoas que medem as palavras o tempo todo.  Rasgação de seda, então, me dá uma ojeriza descomunal! Mesmo em situações que parecem que pedem um vocabulário mais rebuscado. 
O que vejo por trás disso é uma puta falsidade. Segundas intenções mascaradas. 
Qual o problema em segundas intenções? Nenhum. O problema são os jogos. 
Não sei jogar, não sei me conter. Falo logo o que quero e quero saber logo se rola ou não.
Não dá pra ficar esperando, nem dissimulando.
Te assusta? Fuja, então! E rápido!




terça-feira, 16 de março de 2010

Sonho desesperador

Acordei hoje cedo (meio dia, mais ou menos) depois de um sonho desesperador.


Um cara do qual não conseguia ver o rosto (nunca vejo rostos em sonhos) chegou perto de mim dizendo: "fica esperta com aquele blog, porque tem gente roubando seus textos".
Confesso que acordei assustada, mas passou assim que me enfiei embaixo da água fria do chuveiro. A preocupação passou logo em seguida. 
Até em sonho eu sou prepotente! Quem roubaria essas porcarias? Coisas tão pessoais e tão sem graça. Eu mesmo não gosto de muita coisa depois de uns dias...
Deixa pra lá.
O interessante mesmo, pra mim, é que quase nunca lembro dos meus sonhos. Já ouvi dizer que sonhamos a noite toda, que ninguém fica sem sonhar. Mas estou com preguiça de pesquisar isso agora. 
Ouvi também que nossos sonhos duram milésimos de segundos. Que parece que a gente sonhou a noite toda, mas, na verdade, foram pouquíssimos instantes. E o sonho que lembramos é o último que tivemos. Por ser mais impactante, acabamos acordando.
Normalmente são sonhos assustadores, ou muito, muito agradáveis.
Eu já tive muito sonho estranho. Durante anos da minha vida sonhava que estava indo pra Coke Luxe (salão daqui). Antes de sair, olhava no espelho e também para meus pés. Usava sempre uma bota preta, de cano alto e bico fino (que eu já não tinha há anos). No meio do caminho, ou no meio da balada, olhava para baixo e percebia que estava descalça. Procurava como uma louca minhas botas, não as encontrava e desistia. Voltava pra casa descalça e, já em casa, as botas estavam novamente nos meus pés.
Por anos, como já disse, tive esse sonho. E queria muito saber porquê. Não acredito em sonhos como premonições, mas como algo guardado no nosso subconsciente que nos incomoda, sem percebermos, e se manifesta oniricamente.
Parei de ter esse sonho quando encontrei um cara numa vigília do Encontro de Jovens. Ele não me era estranho, mas não conseguia lembrar de onde o conhecia. Minha amiga, vendo que eu não parava de olhar pra ele, nos apresentou. Quando ela disse seu nome eu me lembrei quem era. Quatro anos antes, estava indo pra Av. Portugal (quando aquilo era bom) e, no meio do caminho, fui assaltada por esse elemento. Voltei pra casa descalça e, no outro dia, só de raiva comprei dois tênis. Esses duraram muito tempo porque tinha medo de sair de casa com eles. E a partir daí parei de sair. 
Fiquei traumatizada (sou  até hoje), aos poucos fui parando de sair e sei agora que aquele sonho representava o medo que eu tinha de me acontecer algum mal na rua e a segurança que eu sentia em casa.
Me lembro de uns outros sonhos estranhos, mas só me lembro por isso: por terem algum impacto, ou por se repetirem várias vezes.
Sonhar com uma transa é uma maravilha! Pena que faz tempo que isso não acontece. O jeito é fazer de verdade mesmo.
E sonhar que se está caindo. Uma agonia danada. E sempre se acorda quando se vai bater no chão. Dizem que quem sonha com isso, e chega ao chão, não acorda. Eu sempre gostei da agonia desse sonho. E sempre quis chegar ao chão. Ou já cheguei, não me lembro e essa teoria é furada, ou não cheguei ainda.
Mas o melhor de todos (confessem) é aquele em que sonhamos que estamos chegando em casa super apertados, morrendo de vontade de fazer xixi e a porta não abre, e tem gente no banheiro, e a vontade aumenta e aumenta... E conseguimos, finalmente, entrar no banheiro, fechar a porta, abaixar as calças e nos aliviarmos... Ah! que delícia, pensamos. E percebemos um calorzinho gostoso, depois uma umidade que incomoda e acordamos. PQP! 
Agora, o que pega mesmo é a paralisia do sono. 
Acordei e continuei deitada, tentado dormir de novo. Virei para a parede e percebi alguém entrando no meu quarto. A pessoa sentou na minha cama, senti o colchão abaixando e não conseguia me virar para ver quem era. Essa pessoa começou a apertar meu pescoço e eu não conseguia me mexer. Ela soltou e eu consegui me mexer. Levantei a perna e dei com tudo na pessoa sentada na minha cama. Não tinha ninguém. Caí da cama, bati a cabeça no violão que estava ao lado e fiquei sem saber o que tinha acontecido.
Outra vez, acordei e olhei pra porta do meu quarto aberta. Sentia um calor insuportável e via uma luz laranja muito forte do lado de fora. Minha casa pegava fogo e, mais uma vez, não podia fazer nada. Foi um dos piores sentimentos que tive, fiquei realmente desesperada. Tentei gritar e não conseguia. 
Claro que consegui, depois de uns instantes, me levantar e correr dali. E saí do quarto descabelada, de camiseta e calcinha, com meus discos nas mãos e os amigos do meu irmão jogando video game na sala.
Depois minha professora de psicologia me explicou o que era isso. Disse também que podia acontecer pouco antes de a pessoa dormir, mas era mais raro. Meu caso era mais comum e minhas alucinações não eram tão assustadoras quanto muitas outras que ela já ouviu. E que muitos ficavam realmente atormentados por isso, mas até que eu lidava de uma forma engraçada. Engraçada porque não foi ela quem passou vergonha!
Lembrei-me agora que essa professora achava que eu era psicótica. Certo dia ela me chamou depois da aula pra conversar. Disse que sempre me ouvia dizer que eu não tinha dormido e estava preocupada porque não era normal uma pessoa não dormir.
Se dormir desse dinheiro, eu seria milionária! Dormir é a coisa que eu mais gosto de fazer. Mais do que comer, beber, fazer sexo. Mais que tudo. Queria arrumar um emprego de testar colchões. Dormiria meia hora em um, meia hora em outro... Que beleza! Trabalharia 15 horas por dia, sem problemas.
Ela me disse que cada uma tinha sua necessidade e que ela, por exemplo, precisava de três horas somente de sono pra acordar bem. Psicótica era ela! Onde já se viu, ir dormir às duas da manhã e acordar às cinco e se sentir bem assim!
Eu preciso de dez horas pra acordar bem. E preciso acordar sozinha. Sem despertador, sem gente gritando...
Se eu for acordada não naturalmente, fico mal o dia todo. E de mal humor o dia todo também.
Na época da faculdade, tinha um problema. Eu trocava o dia pela noite. Passava a noite lendo, ou desenhando, ou escrevendo. Queria muito achar as coisas que escrevia naquela época. Eram bem melhores. E dormia de manhã. Trabalhava à tarde, estudava à noite...
Só que, caso esquecesse da hora, e visse que tinha amanhecido, não conseguia dormir mais. Então, virava e mexia eu dizia que não tinha dormido. A luz do sol me incomodava. Tinha olheiras, era magra. Vivia de café e cigarro. 
Hoje eu durmo. Mais do que deveria. Ainda tomo muito café, ainda fumo muito, mas como também e não troco mais o dia pela noite, a não ser que tenha um ótimo motivo. 
Como foi que cheguei até aqui mesmo?
Sei lá. Essa professora também me disse que eu era narcisista e egocêntrica, por causa das estrelas que costumava rabiscar no caderno enquanto ela dava sua aula. 
Eu não consigo me concentrar no que uma pessoa fala se precisar olhar pra ela. Tem gente que me acha arrogante porque não presto atenção em nada. Mas é justamente o contrário. Se eu olhar pra pessoa enquanto ela fala, em segundos eu começo a viajar e pensar em milhões de outras coisas que nada tem a ver com o assunto em questão. Viajo mesmo.
Quero saber quem foi o imbecil que inventou que a pessoa que não olha nos olhos enquanto conversa é falsa. Sou, na pior das hipóteses, tímida. Então, enquanto converso, estou sempre rabiscando estrelas. Ou dobrando algum papel. Gosto de fazer pererecas de papel e, depois de prontas, ficar fazendo-as pular pra tentar acertar o copo. Toda vez que estou no balcão do Alex, faço minhas dobraduras e começo... E sempre tem um ou dois tontos como eu que começam a apostar. Quando vejo, tem perereca pulando pra tudo que é lado e o assunto já se foi. E, uma hora depois, depois que todos já se esqueceram da conversa, eu dou minha visão geral sobre o assunto. "Que? Tá doida? Tá falando do que? "Ninguém mais lembra do papo e eu que não presto atenção.
Ah! E, apesar de narcisista e egocêntrica eu não gosto de me mostrar. Entre as estrelas rabiscadas sempre tinha minha assinatura, não legível. Isso mostra que eu penso que o universo gira em torno de mim, mas não quero que todos saibam que eu penso assim. Pra mim, basta. Contraditório?
Sei lá pra que serve esse blog com posts tão pessoais e sei lá porque escrevi tudo isso aqui, se não foi pra me mostrar!
Mas gostei da interpretação da 'prô'.
Bom, voltando a um ótimo motivo pra não dormir, digo que hoje tenho um. Aliás cinco!
Sete filmes pra devolver amanhã. Cinco que eu ainda não assisti.
Vou fazer isso agora!
Boa noite aos insones...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Correnteza


Ele corre, não para.
Circula, volta.
Sai novamente, volta...

Nada de talvez,
nada de um dia.
Ele precisa correr agora
e precisa correr sempre.
Azul à luz do sol...
Vermelho sob as estrelas...
Frio?
Não, quente!
E quer mais, sempre mais.
Precisa ferver agora,
Precisa disso sempre.
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"Be my heater, be my lover
And we could do it to each other..."

domingo, 14 de março de 2010

Miguel (Quarta Parte)

Rubia era simples. Gostava de andar descalça e de ficar à vontade. Não gostava de nada que a prendesse. Nem roupas justas, nem sapatos apertados, nem pessoas possessivas. Tudo que a incomodasse era colocado no mesmo patamar – fossem roupas ou pessoas. Era livre. Seria livre a qualquer custo.

Gostava, acima de tudo, de conversar. Tanto fazia o assunto, o que importava era aprender. Curiosa, quando não sabia do que se tratava ouvia e absorvia. Só não lhe importavam futilidades. O que era moda não lhe despertava interesse, e isso fazia com que tivesse dificuldade em se conectar a novas amizades. Tinha os amigos de sempre, de infância e uns poucos que conheceu sem querer, amigos de amigos.
Era afável, não desprezava ninguém. Tratava a todos com atenção, mas não conseguia se ater a banalidades. Preferia ficar quieta, em seu canto, do que simplesmente jogar conversa sem sentido fora. Havia quem a visse como arrogante, mas seu problema era, talvez, timidez. Nunca iniciava uma conversa. Sempre alongava bons papos com quem começava a falar com ela, mas nunca tomava a iniciativa. Andava pela avenida movimentada se perguntando de onde tirou coragem pra deixar aquele livro no trem, e onde estava com a cabeça quando pensou que aquele livro deixado ali pudesse fazer com que os dois se encontrassem novamente.
Rubia já estava em seu lugar na janela quando o trem estacionou – gostava quando conseguia se sentar ali, mas não gostava dos bancos que ficavam de frente. Ali, na janela, tinha pra onde olhar sem precisar olhar para os outros. Para ajudar, sempre tinha um livro e ouvia música. Assim não havia como ter contato com alguém que não conhecesse. O único problema era o sol que batia insistentemente em seus olhos, mas não conseguiria mudar de lugar, pois o trem havia parado e entravam mais e mais pessoas.
Ali, do seu lugar, com aquele sol impertinente, reparou em um grupo bem inusitado de meninas entrando no trem. Falavam alto, se empurravam... Adolescentes efervescentes. Por sorte, elas foram para o lado oposto do dela. Enquanto as via, reparou em um cara muito bonito procurando um lugar pra se sentar. Alto, cabelos pretos e lisos. Branquelinho e com furinho no queixo. Bermuda, camiseta branca, camisa xadrez por cima e um tênis bem surrado. Assim que se sentou, reparou em um corte em seu rosto. Devia ser daqueles que nunca fazem a barba e foi obrigado, por qualquer motivo, a fazer a contragosto. Mas sua atenção fora desviada pelo grupo de meninas, que vieram para aquele lado, sentar perto do rapaz. “Um cara desses não passaria despercebido”. Rubia resolveu deixar a admiração momentânea de lado e voltar a seu livro.
Tentou se concentrar, mas as garotas falavam mais alto do que tocava a música em seus fones. Estavam atrapalhando tanto a leitura quanto a audição. Rubia se desconcentrou, mas continuou fingindo ler, pois percebera que o cara na sua frente estava meio perdido em pensamentos e se perdera justamente olhando em sua direção. Continuou, então, com sua cabeça abaixada pra não ter de cruzar com o olhar daquele ser que chamava a atenção de todas. “Tipo comum: bonito e gosta de loiras. Fica olhando pra adolescente peituda como todos do vagão. Deve ser um panaca, sem assunto. Mas é realmente lindo”.
Rubia não e conteve quando a loira sentou-se ali com ele e quis ouvir a conversa. Queria saber que tipo de cantada o panaca passaria na menina, e quantos segundos demoraria pra eles trocarem seus telefones. Também estava curiosa pra saber em que ele estaria pensando, mas a outra teve o descaramento de perguntar e isso ela nunca faria. Aproveitaria pra ouvir. Sabia que seria alguma idiotice, mas levava a vida tão a sério que ouvir algo inútil uma única vez não lhe faria mal. Já tinha tomado antipatia pelo cara na sua frente, quando ouviu a tal cantada. Era pra ela! Era dela que ele estava falando. Dela e daquele sol que a incomodava tanto e possivelmente fazia seus cabelos ficarem com uma cor mais vibrante. Ele havia reparado nisso, coisa que nenhum tipo comum faz e, além disso, ainda descrevia seus pensamentos de forma quase poética. Falava em nuances. Devia ser pintor, desenhista, algo assim. “Não, estou imaginando demais. Ele pode estar falando sobre qualquer outra coisa”, pensou Rubia. Mas ele começou a falar das cores de sua roupa e praticamente fez um convite velado pra algo mais. Vinho e velas sem mais cores. Só o vermelho.
Não resistiu e o olhou. O fato de saber que ela a estava imaginando nua causou-lhe um sorriso espontâneo. Sorriso de quem gostara da ideia e de quem gostaria que ela se concretizasse. Rapidamente baixou os olhos para seu livro, mas as letras pareciam formigas dançando alegremente pelas páginas: embaralhadas e embaçadas. Rubia ruborizava. Estava certa de que suas têmporas estavam mais rubras que seus cabelos. Mas Miguel não percebeu, pois falava olhando para a outra, agora. A outra que não entendera o que Miguel quis dizer. Foi divertido, pra Rubia, ouvir tudo aquilo e ainda ver que a outra se sentira lisonjeada. Ela riu-se de sua inocência, por assim dizer, e tentou disfarçar, sem conseguir.
Ao mesmo tempo em que tentava disfarçar sua satisfação, Rubia tentava encontrar algo pra dizer a Miguel. Não conseguia pensar em nada de tão surpresa que se sentia ainda com aquela declaração inesperada. Respirou fundo, sorrindo ainda e estava pronta para olhar para ele quando seu celular tocou. Era um amigo que vinha do interior perguntando se ela ia encontrá-lo. Ela combinou com o amigo em um bar que ele já conhecia, enquanto colocava seu livro ao lado de sua perna. Sem saber o que dizer, e sabendo que nunca mais o veria, decidiu deixar algo que o fizesse se lembrar dela.
Quando o trem parou, esperou um pouco para que as pessoas ao redor descessem e seguiu para a porta, como se nada daquilo tivesse acontecido. Deu uma olhada ainda para Miguel, depois que saiu de seu campo de visão, pra ter uma última imagem dele. “Que pescoço perfeito!”. Foi o que ela pensou vendo Miguel de costas.

sábado, 13 de março de 2010

Só, te desejo.

E de repente percebi que te uso.
Sem maldade, te uso.

Uso como um refúgio, como fortaleza.
Não te amo - bem que gostaria...
Não dependo, não espero, não quero
que sejas o amor da minha vida.
Apenas atende aos meus apelos
e cede aos meus desejos.
Hoje a noite convida
A livrar-me dessas paredes
Adoro ser tentada, adoro não resistir.
Desfrutarei, pois, de minhas fraquezas.
E te procurarei quando precisar
de um descanso ante as incertezas.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Esse displiscente!

Um vagabundo. Não há outra definição.

Vive vagando, vadiando, nunca está num lugar só.
Tem seu canto bem protegido e ali não há alma que se achegue.
Sem norte, passa longe dos portos e só se deixa atracar quando algum tipo de tédio se instaura. Mas logo este faz suas malas, parte e dá lugar a tédio maior.
Então ele recolhe sua âncora, liga seus motores e segue. Só.
Em seu canto sagrado não há lugar pra sofás ou camas. Nada que faça um visitante se sentir tão confortável que queira ficar por muito tempo.
Alí tem lugar pra um café, um cigarro, um bom papo. Em uma cadeira dura e incômoda. Assim, a visita se vai quando se esvai o assunto.
Desapegado. E desarmado. A seu favor tem experiências próprias e alheias. Não repete os erros e não tenta acertar. Apenas vive, pulsa, jorra. E aprende e acumula memórias.
Se resguarda e se sente bem assim. Não sabe se nasceu desse jeito ou se no fundo ainda não nasceu.
Certo visitante lhe despertou algo inusitado e ainda não definido. Talvez simpatia, talvez mera curiosidade. A esse visitante foi reservada uma almofada bem grande para que ele se jogasse nela quando bem entedesse.
Parece-lhe que este visitante não se importa muito com esse pequeno conforto oferecido, mas ele continua ali.
Não quer, de forma alguma, aportar, mas sente que gostaria dessa presença vez ou outra. Para cafés e cigarros e conversas e mais...
Por vezes tem a impressão de que a campainha toca. E ele salta, a ponto de querer sair dançando por aí.
Mas logo volta a se aquietar, em seu devido lugar, sem estar certo de que aquele ímpeto tivera sido impulsionado por um motivo real.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher

Depois de inúmeros protestos, lutas e mortes, foi instaurado, em 1975, o Dia Internacional da Mulher.

Os protestos contra as más condições de trabalho e baixos salários, que começaram lá por 1857, só vieram as ser reconhecidos, pela ONU, em 1975! Quase 120 anos de luta por reconhecimento oficial. Houve outros dias das mulheres, mas oficialmente mesmo, só depois de tanto tempo.
Hoje deveríamos lembrar do sofrimento de mulheres guerreiras que sempre lutaram para que vivêssemos em melhores condições, não só trabalhistas, mas morais.
Hoje não é dia de ganharmos flores e presentinhos, e elevarmos os lucros de floriculturas, restaurantes, motéis. Hoje deveria ser dia de elevarmos nossa consciência de que ser mulher não implica somente em ser genitora. Sermos parabenizadas por colocarmos homens no mundo é de uma idiotice gritante.
Ontem um cara me parabenizou por isso: "Se não fossem as mulheres, nós não estaríamos aqui". Como se o único papel da mulher fosse parir.
Mulherem trabalham em todos os turnos. Mulheres cuidam de casa, dos filhos, dos maridos também. Mulheres votam, mulheres impulsionam a economia, mulheres escrevem, pintam, lêem. Mulheres lutam sempre, diariamente, independente de ser por salário, por dignidade, por amor...
Que venha o dia em que nós mesmas reconheçamos nossa existência como parte fundamental de uma sociedade igualitária, justa e digna. O dia em que nos uniremos em favor de ideais e não nos contentaremos apenas com flores e recados "meigos" em um único dia no ano.
Links provavelmente úteis (tem mais um montão por aí):
http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_da_Mulher
http://www.overmundo.com.br/overblog/as-mulheres-no-poder
http://pt.shvoong.com/social-sciences/sociology/1653449-papel-da-mulher-na-sociedade/
http://www.partes.com.br/ed43/cultura.asp
http://www.suapesquisa.com/dia_internacional_da_mulher.htm

sexta-feira, 5 de março de 2010

Miguel (Terceira Parte)

Sem saber o que fazer, Miguel se sentou, ainda na estação de trem. Relembrando do dia desde o início, se perguntou se o acaso, do qual todos falavam, realmente existia. Era um incrédulo. Nunca admitiria, em sã consciência, em peças pregadas pelo destino. Mas o que, então, o teria feito sair de casa naquele dia? O que o teria feito pegar aquele trem exatamente naquele horário? Porque a menina do vermelho perfeito estaria ali, na sua frente, não fosse o destino?

Talvez ela usasse o trem todos os dias, no mesmo horário. Ela poderia estar indo trabalhar. Estaria ali de qualquer forma. Não. Ela havia combinado de se encontrar com alguém em um bar, àquela hora da manhã. Que tipo de pessoa iria a um bar às dez da manhã? De qualquer forma, não era para ele estar ali. Às dez da manhã de um sábado, normalmente, ele estaria dormindo. Trocava o dia pela noite desde que se lembrava por gente. Sofria de insônia e essa noite tinha sido muito mal dormida também. Não devia estar ali, definitivamente. Muito menos devia estar sentado, como um bobo, tentando descobrir algo que não tinha explicação. Se estava tão intrigado, devia sair correndo dali procurar a tal menina. Sabia onde ela estaria. Pra que perder tempo?

Desceu, então, apressadamente pelas escadas. Encaminhou-se ao metrô e seguiu à procura da garota. Chegando ao bar, não a viu. Sentou-se em uma mesa na calçada, pediu um café e abriu o livro. E ali ficou. Folheando as páginas, sem prestar atenção, como de costume. Dessa vez, no entanto, tinha motivo para não se prender à história. Só pensava em encontrá-la. Se fosse um livro dele, estaria chateado em perdê-lo. Queria devolver, só isso. A menina pode ter ido até ali pra encontrar o namorado. Ele não podia criar expectativas. Nem a conhecia. Podia até pensar que ele fosse um louco, se o visse ali. Falara de seus cabelos no trem, com a outra garota e, de repente, ela o veria ali, no mesmo lugar que ela combinara estar. Ela também não parecia acreditar em acasos. Portanto, se o visse, o acharia maluco. Ele também acharia, no lugar dela. Teria medo, no lugar dela.

E ele bem sabia que não era um cara muito normal. Podia chamar atenção pela aparência, mas era um tanto exótico quanto aos gostos, hábitos... Teria que se aproximar com calma, não de súbito: “Ei! esqueceu seu livro no trem!”. Uma pessoa normal levaria o livro embora, não sairia caçando a dona dele por ai. Melhor: nos dias de hoje, uma pessoa normal nem pegaria o livro. Pra quê?

- Está bem? Perguntou uma voz que passava por ele.

- Sim, obrigado – respondeu Miguel, sem levantar o olhar. Outra mulher puxando assunto ele não suportaria. Só estou tentando ler um pouco.

- Entendi. Normalmente quem “tenta” ler quer ficar sozinho. Bom esse livro – disse a voz.

Um pouco adiante, a ‘voz’ murmurou baixinho: ”se ele soubesse...”.

Dez minutos e inúmeros cafés depois, Miguel resolveu ir. Pagou sua conta e, quando estava saindo, parou e voltou-se ao garçom:

- Por um acaso, passou por aqui hoje uma ruiva, de saia verde e blusa branca?

- Sim, passou.

- Ela costuma vir aqui?

- Não. Nunca a vi.

- Demorou-se muito?

- Um pouco. Estava aqui dentro, atrás daquela coluna. Tomou dois chopes, parecia esperar alguém. Ficou até que seu celular tocou. Ela o atendeu e depois foi embora. Tive a impressão de que ela parou pra falar com você, quando saiu.

- Comigo?

- Sim. E você parecia estar tão absorto na leitura que nem deu atenção a ela. Mas pode ter sido somente impressão minha.

- Gostaria que tivesse sido.

Mas não era impressão. Era ela! Miguel se achava um tolo. “Porque não levantei o rosto quando ela se aproximou? Por que não desconfiei que fosse ela? Como alguém saberia que o livro era bom, se não o conhecesse. Afinal, o livro estava aberto, seu nome e sua capa não estavam à mostra. Somente quem o conhecesse saberia se era bom ou não. Idiota!”.

Saiu correndo do bar e foi na direção em que ela tinha ido. Nada. Já fazia tempo. “Mulher doida! Custava parar e conversar um pouco? Bem, ela tentou. Eu é que fui rude. Bicho do mato!”.

Nervoso, Miguel voltou para o metrô, de volta pra casa. Olhou por todos os lados durante todo o trajeto. A via em todos os rostos, em todos os lugares. Mas nunca era ela realmente. Pensou em todos os dias pegar o trem naquele horário. Em transformar sua vida em uma rotina incansável pra tentar encontrá-la. Sabia que não ia fazê-lo, mas imaginou como seria esse encontro. Ela sentada ao lado da janela, ouvindo sua música, mas com as mãos vazias. Ele chegando perto e colocando o livro à sua frente. Novamente ele veria aquele sorriso, mas dessa vez ela o convidaria pra sentar ao seu lado e eles começariam, finalmente, a conversar. E falariam sobre tudo que eles teriam em comum. “Como será seu nome?”. “O que será que ela faz?”. “Do que ela gosta, do que tem medo?”.

Isso não ia acontecer, era melhor esquecer essa história. Só lhe restou abrir o livro e ler de verdade. As páginas iam passando e Miguel ia se esquecendo daquele quase encontro. A última coisa que pensou era que, a partir daquele momento, o nome dela seria Rúbia.


quinta-feira, 4 de março de 2010

Ela e Sua Janela

Chico Buarque
Ela e sua menina
Ela e seu tricô
Ela e sua janela, espiando
Com tanta moça aí
Na rua o seu amor
Só pode estar dançando
Da sua janela
Imagina ela
Por onde ele anda
E ela vai talvez
Sair uma vez
Na varanda

Ela e um fogareiro
Ela e seu calor
Ela e sua janela, esperando
Com tão pouco dinheiro
Será que o seu amor
Ainda está jogando
Da sua janela
Uma vaga estrela
E um pedaço de lua
E ela vai talvez
Sair outra vez
Na rua

Ela e seu castigo
Ela e seu penar
Ela e sua janela, querendo
Com tanto velho amigo
O seu amor num bar
Só pode estar bebendo
Mas outro moreno
Jogo um novo aceno
E uma jura fingida
E ela vai talvez
Viver duma vez
A vida

quarta-feira, 3 de março de 2010

Pretensão

Imagem: http://www.stinapersson.com/portfolio/watercolour/

Eu quero um grande amor,
Tá bem, pode ser pequeno,

Ok, mas que seja de verdade,
De mentira também serve,
Mas que dure bastante,
Aceito um rapidinho.
Entre o nada e qualquer coisa
Meu coração dança miudinho.
Ulisses Tavares.