sexta-feira, 5 de março de 2010

Miguel (Terceira Parte)

Sem saber o que fazer, Miguel se sentou, ainda na estação de trem. Relembrando do dia desde o início, se perguntou se o acaso, do qual todos falavam, realmente existia. Era um incrédulo. Nunca admitiria, em sã consciência, em peças pregadas pelo destino. Mas o que, então, o teria feito sair de casa naquele dia? O que o teria feito pegar aquele trem exatamente naquele horário? Porque a menina do vermelho perfeito estaria ali, na sua frente, não fosse o destino?

Talvez ela usasse o trem todos os dias, no mesmo horário. Ela poderia estar indo trabalhar. Estaria ali de qualquer forma. Não. Ela havia combinado de se encontrar com alguém em um bar, àquela hora da manhã. Que tipo de pessoa iria a um bar às dez da manhã? De qualquer forma, não era para ele estar ali. Às dez da manhã de um sábado, normalmente, ele estaria dormindo. Trocava o dia pela noite desde que se lembrava por gente. Sofria de insônia e essa noite tinha sido muito mal dormida também. Não devia estar ali, definitivamente. Muito menos devia estar sentado, como um bobo, tentando descobrir algo que não tinha explicação. Se estava tão intrigado, devia sair correndo dali procurar a tal menina. Sabia onde ela estaria. Pra que perder tempo?

Desceu, então, apressadamente pelas escadas. Encaminhou-se ao metrô e seguiu à procura da garota. Chegando ao bar, não a viu. Sentou-se em uma mesa na calçada, pediu um café e abriu o livro. E ali ficou. Folheando as páginas, sem prestar atenção, como de costume. Dessa vez, no entanto, tinha motivo para não se prender à história. Só pensava em encontrá-la. Se fosse um livro dele, estaria chateado em perdê-lo. Queria devolver, só isso. A menina pode ter ido até ali pra encontrar o namorado. Ele não podia criar expectativas. Nem a conhecia. Podia até pensar que ele fosse um louco, se o visse ali. Falara de seus cabelos no trem, com a outra garota e, de repente, ela o veria ali, no mesmo lugar que ela combinara estar. Ela também não parecia acreditar em acasos. Portanto, se o visse, o acharia maluco. Ele também acharia, no lugar dela. Teria medo, no lugar dela.

E ele bem sabia que não era um cara muito normal. Podia chamar atenção pela aparência, mas era um tanto exótico quanto aos gostos, hábitos... Teria que se aproximar com calma, não de súbito: “Ei! esqueceu seu livro no trem!”. Uma pessoa normal levaria o livro embora, não sairia caçando a dona dele por ai. Melhor: nos dias de hoje, uma pessoa normal nem pegaria o livro. Pra quê?

- Está bem? Perguntou uma voz que passava por ele.

- Sim, obrigado – respondeu Miguel, sem levantar o olhar. Outra mulher puxando assunto ele não suportaria. Só estou tentando ler um pouco.

- Entendi. Normalmente quem “tenta” ler quer ficar sozinho. Bom esse livro – disse a voz.

Um pouco adiante, a ‘voz’ murmurou baixinho: ”se ele soubesse...”.

Dez minutos e inúmeros cafés depois, Miguel resolveu ir. Pagou sua conta e, quando estava saindo, parou e voltou-se ao garçom:

- Por um acaso, passou por aqui hoje uma ruiva, de saia verde e blusa branca?

- Sim, passou.

- Ela costuma vir aqui?

- Não. Nunca a vi.

- Demorou-se muito?

- Um pouco. Estava aqui dentro, atrás daquela coluna. Tomou dois chopes, parecia esperar alguém. Ficou até que seu celular tocou. Ela o atendeu e depois foi embora. Tive a impressão de que ela parou pra falar com você, quando saiu.

- Comigo?

- Sim. E você parecia estar tão absorto na leitura que nem deu atenção a ela. Mas pode ter sido somente impressão minha.

- Gostaria que tivesse sido.

Mas não era impressão. Era ela! Miguel se achava um tolo. “Porque não levantei o rosto quando ela se aproximou? Por que não desconfiei que fosse ela? Como alguém saberia que o livro era bom, se não o conhecesse. Afinal, o livro estava aberto, seu nome e sua capa não estavam à mostra. Somente quem o conhecesse saberia se era bom ou não. Idiota!”.

Saiu correndo do bar e foi na direção em que ela tinha ido. Nada. Já fazia tempo. “Mulher doida! Custava parar e conversar um pouco? Bem, ela tentou. Eu é que fui rude. Bicho do mato!”.

Nervoso, Miguel voltou para o metrô, de volta pra casa. Olhou por todos os lados durante todo o trajeto. A via em todos os rostos, em todos os lugares. Mas nunca era ela realmente. Pensou em todos os dias pegar o trem naquele horário. Em transformar sua vida em uma rotina incansável pra tentar encontrá-la. Sabia que não ia fazê-lo, mas imaginou como seria esse encontro. Ela sentada ao lado da janela, ouvindo sua música, mas com as mãos vazias. Ele chegando perto e colocando o livro à sua frente. Novamente ele veria aquele sorriso, mas dessa vez ela o convidaria pra sentar ao seu lado e eles começariam, finalmente, a conversar. E falariam sobre tudo que eles teriam em comum. “Como será seu nome?”. “O que será que ela faz?”. “Do que ela gosta, do que tem medo?”.

Isso não ia acontecer, era melhor esquecer essa história. Só lhe restou abrir o livro e ler de verdade. As páginas iam passando e Miguel ia se esquecendo daquele quase encontro. A última coisa que pensou era que, a partir daquele momento, o nome dela seria Rúbia.


9 comentários:

Juan Moravagine Carneiro disse...

Acho que vc devia deixar de lado (...) e se dedicar somente a escrever!

Sophia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Déd's disse...

Affff... Vc é mto lerda, tia... Fica demorando pra escrever... E eu fico curiosa... CHATAAAAAAAAAAA!! Escreve logo q tá legal!!!!

Sophia disse...

Dé, tem mais duas partes aqui.
É que eu não tenho certeza ainda se está bom.
Ah! pasta com senha, vc não vai ler antes que eu publique!
hehehe

Unknown disse...

Vc é uma VACA!

Sophia disse...

É esse 'carinho' que me faz gostar tanto dessa família!
hehehe
Vou postar hoje outra parte.

Unknown disse...

Ta vendo só, estou lendo tudo sobre seu amor platônico .

Unknown disse...

Quando vc postar mais, me avisa....ta interessante, agora vou dormir, ja q meu café com leite e pao com manteiga n veio mesmo....

ô tia vê se nao demora...

Sophia disse...

Lindo, não é amor platônico. Ele não existe, lembra? Estou criando um amor ideal, talvez... Vamos ver...
Se for isso, quem sabe ele não se materializa?
Tenho mania de gostar do que não existe.